De joelhos, com minha cabeça encostada no chão e as lágrimas escorrendo pelo meu rosto eu roguei por misericórdia.
Implorei aos deuses, misericórdia. Implorei a Ela compaixão. Pedi para que ela não me deixasse passar por tudo o que ela passou, não permitisse que eu sofresse tal perda e, caso fosse inevitável, que me fosse dado o golpe de misericórdia. Apenas uma única flecha e toda a minha dor se dissipasse. Talvez eu até virasse uma constelação, ou não. Não sei.
Com meu coração acelerado, meu corpo quente e meu pulso ardendo, me permiti deitar no escuro e sofrer, até que a ajuda chegasse. A ajuda que roguei aos deuses havia vindo, claro, da forma que sempre vinha, mesmo eu não me sentindo muito merecedor.Decidi que me enclausurar no escuro, me entregar ao sofrimento, não seria bom. Então eu saí, sem mentiras nem desculpas, desta vez. Apenas a verdade. Fui rumo ao meu consolo, iluminado pela luz desta lua prateada.
Então foi neste momento que eu a vi. Trajando uma casca que qualquer um que não tenha sensibilidade ou ao menos fé desdenharia, ela veio até mim. Não dei ideia, ignorei. Ela não desistiu. Rodeou-me, insistiu, olhava-me, tentando chamar minha atenção. Pouco antes de deixar o local, eu a encarei. Não houve uma palavra sequer, nenhum som. Ela apenas me encarava, e aquele olhar... Ah, aquele olhar. Falou-me tanta coisa. Falou-me coisas sobre mim que eu me recusava a aceitar. Era mais simples culpar o próximo a aceitar seu erro. Mas foi impossível fugir àquelas palavras lançadas contra mim num silêncio devastador, porém necessário.
Ela apenas me olhava, balançava sua cabeça negativamente e movia-se com aflição. Acho que, ao mesmo tempo em que tentava me ajudar, lembrava-se de toda a angústia que passou no passado e que a aterroriza até hoje.
Então eu segui meu caminho. Não sei se foi o que imaginei ou se era apenas uma peça desesperada de minha cabeça em buscar consolo, mas prefiro acreditar em meu coração.
