Era uma vez, em um reino distante, uma princesa muito amada e querida por todos de sua família. Era doce, amável e sensível. Mesmo contra a vontade de seus pais, gostava de estar entre seus súditos, ouvindo-os e tentando ajudar em tudo o que podia. Vivia em um lindo castelo e em seu reino nada faltava. Era repleto de abundancia, fertilidade e felicidade. Um dia viajantes de um reino distantes, invejando o que tinham, peregrinaram até lá afim de roubar-lhes tudo o que lhes fossem mais preciosos. Seu pai então reuniu suas tropas. Como um Rei deveras corajoso, juntou-se com seus homens e partiu para interceptar as tropas inimigas que se aproximavam, deixando um rastro de destruição e morte. Infelizmente seu pai faleceu no combate.
A princesa e a rainha ficaram profundamente tristes com isso. Foi uma perda indescritível. Ela, sendo filha mais velha, também tinha uma irmã. Esta, muito nova, era isenta das responsabilidades que ela tinha. As tropas chegaram ao reino, roubaram, mataram, estupraram e foram embora. Todos perderam muitos. A integridade da família real e de alguns súditos foram poupadas, porém o reino não possuía nada mais. A Rainha então decidiu casar sua filha para que pudesse reconstruir o legado deixado por seu esposo.
Não tardou até que aparecessem pretendentes. Sua fama percorria muitos e muitos reinos. O primeiro foi um jovem e loiro príncipe, vindo de não muito longe, cortez, conquistou a Rainha que prometeu a mão de sua filha. Com o tempo as investidas do rapar tornaram-se menos gentis e este não esperou a noite de núpcias para possuí-la. Tentou tê-la a força e não houve nada o que se pudesse fazer. Ao descobrir, a Rainha mandou que montassem uma emboscada para o rapaz e este veio a falecer da pior forma possível.
Passado algum tempo, outro pretendente surgiu, um jovem, com alma madura e estudioso. Este, por sua vez, quis conhecê-la mais antes de entregar-se. Infelizmente as qualidades da princesa não foram suficiente para suprir as necessidades do rapaz. Infelizmente a princesa havia se apaixonado por ele e por seu jeito gentil e delicado. Foi obrigada então a vê-lo partir.
Em seguida, vindo de um reino distante, veio um príncipe deveras rico. Ao chegar lá e ver a mudança do reino logo percebeu as intenções da Rainha e descartou qualquer hipótese de casamento. Conheceu a princesa apenas por educação, fez mais uma ou duas aparições e depois desapareceu. Mais uma vez a princesa sofreu a dor da rejeição.
Ela ficou realmente triste com os acontecimentos e a solidão começou a tomá-la. Durante um tempo não houveram pretendentes. Ela então dedicou sua vida aos estudos, à leitura. Com o passar do tempo viu-se apaixonada pelo conselheiro do reino, que por sua vez era amigo de seus pais. Este recusou-se a tê-la em seus braços em honra à memória de seu pai e ao respeito que tem por sua mãe. A princesa ficou muito triste e caiu em uma profunda depressão. A tristeza a devorava por dentro.
Certo dia caminhando pelos jardins, avistou um poço. Aproximando-se dele, sentou em sua borda e começou a refletir sobre sua vida. Não tardou para que começasse a chorar. E permaneceu assim por longos minutos. Avaliando tudo o que tinha perdido e o pouco que havia ganhado, percebeu o quão deprimente estava sendo sua vida. Tentou então jogar-se dentro do poço. Quem sabe não encontrasse seu amado pai? Porém, no último segundo, foi segurada por duas mãos fortes e delicadas ao mesmo tempo. Era um rapaz que, aparentemente, não pertencia ao seu reino. Provavelmente estava perdido, vindo da floresta, já que chegara tão perto do castelo. Ele a indagou sobre o que fez com que tomasse aquela decisão, ela lhe contou tudo e ele fez um longo discurso sobre o porque devemos ter fé e continuar em frente. Ela então decidiu aguentar firme. Não por ela, mas por sua mãe e por seu reino.
Seus dias passaram a ser mais e mais tristes, embora ela sorria, foram os poucos em que ela realmente quis sorrir. Normalmente esses momentos eram os que ela passava com esse novo amigo, que decidiu ficar por alguns tempos no reino para ajudá-la., a contragosto a Rainha permitiu. Não demorou muito até que seu coração balançasse novamente e ela se viu apaixonada novamente. Neste momento ela sofreu pelo simples fato de ter cedido mais uma vez. Sua mãe, que já vinha observando-os desde o inicio, mandou que o rapaz se fosse, e este, compreendendo a situação toda, não teve outra escolha. Foi expulso do reino e nunca mais pôde voltar.
Ela então passou a não sair do castelo. Ficou apenas observando a vida passar por dentro daquelas grandes janelas. Depois de um longo tempo outro pretendente surgiu. Era educado, engraçado. Parecia um bom marido, porém infiel. Ela não se importava, não o amava e nem queria. Queria apenas ser útil, ajudar seu reino. Algo a ser lembrada. Fazer algo de útil com a sua existência.
O que ninguém esperava era o que estava por vir. Pouco antes de firmarem os laços, apareceu um segundo pretendente. Este, por sua vez, era de um reino tão poderoso quanto o seu fora um dia. Isso foi capaz de pôr a rainha em dúvida. O mais impressionante era que a jovem princesa também viu-se balançada por ele. Era esbelto, alto, bonito e com os olhos tão sedutores como a morte. Viu-se envolta em algo excitante e desejou aquilo. Desejou tê-lo, mesmo tendo desistido. Ela e sua mãe dispensaram o primeiro pretendente que partiu jurando vingança. O segundo príncipe foi acolhido da melhor forma possível. Não demorou muito para que ele visse os encantos dela, menos ainda para perceber as fraquezas. Ele, como ela, foi castigado pela vida. Uma vida um tanto mais longa e muito mais difícil. Viu em sua mão algo tão frágil e delicado. Arriscou-se, mas foi consumido pelo medo. Não poderia se arriscar a quebrar peça tão preciosa e delicada. Decidiu por partir. A princesa neste momento já havia sido consumida pela paixão e o desejava mais do que tudo em sua existência.
O que a encantou foi sua força. Ela o queria por ser forte e porque ele poderia ensiná-laa ser forte. Ele, por sua vez, não quis ajudá-la. Foi-se sem ao menos dizer adeus. A princesa não resistiu. Não possuía forças para mais nada. Limitou-se então a ficar deitada em seu quarto, esperando o momento de sua partida. Todas as lembranças perfuravam-na como lâminas envenenadas que corroíam-na por dentro. Ela então ficou revivendo aquele último momento, observando aquele homem partir. O único que a fez realmente sentir viva, correspondida e feliz. Tudo o que tinha forças era rezar a Deus para que ele retornasse, para que seu amado voltasse e pudesse ajudá-la. Não suportou a rejeição, o acumulo de tristeza e de perdas. A dor foi tamanha que ela não possuía forças sequer para levantar-se e buscar algo para parar a dor. Quis ir ao poço, mas não possuía forças nas pernas, por não se alimentar mais. Tudo o que fazia era definhar de tristeza, por ter perdido a última oportunidade que lhe foi concedida. Ela não mais desejava amor, desejava apenas salvação.
Reza a lenda que ela ainda espera pelo retorno de seu amado príncipe até hoje.
Atenciosamente,
Danilo Nascimento.