Sempre fui um amigo muito fiel, e tive amigos muito fiéis também. Por toda a minha vida eu recebi a ajuda dessas pessoas que escolhi para estarem comigo e durante muito tempo confidenciei para eles tudo de mim, aos poucos, claro. Nunca mantive segredos com meus amigos, mas ultimamente tenho revisto muitos conceitos meus.
Confiar segredos seus a alguém, mesmo que de confiança, é correto? Parando para pensar, nós temos dois fatores a analisar. Se ele ou ela pode ajudar, ou não. Então, se há algo que se possa fazer, porque não compartilhar? Se não, porque compartilhar? Apenas para encher a cabeça deles de tormentas que eles não pediram para ter? e será que eles estão prontos para lidar com os meus problemas? Por vezes não, o que pode ser frustrante, já que ele não pediu por aquilo e recebeu mesmo assim. E essa tal reação pode acabar por danificar o que antes era lindo e puro.
De uns tempos para cá eu pude perceber que a confiança é algo muito mais delicado do que sempre achei que fosse. E que o silêncio às vezes pode ser bem mais vantajoso do que uma conversa. Certas coisas é angustiante e pesada demais, mas compartilhá-la pode ser, definitivamente, pior. Ainda mais se você comete o erro de expor alguém, o que torna tudo tão mais complicado, mesmo que o erro não tenha sido intencional.
A amizade é algo que sempre prezei, prezo e assim continuarei, mas sempre tive a dificuldade de separar muitas coisas, sempre tive medo de estar só e sempre pedi por um ombro amigo, um apoio, e assim em senti na obrigação de estar sempre apoiando a todos ao meu redor. Com o tempo eu percebi que carregava mais peso do que conseguia. Por isso resolvi me despir das responsabilidades desnecessárias, reprimir a vontade de conversa e tentar fazer tudo ao meu jeito, ou lidar com quem devo lidar quando for o caso. Nem sempre isso é possível, claro. Mas é algo que venho tentando, venho moldando em mim, venho aprendendo.
Não consigo simplesmente mudar tudo em mim da noite para o dia, ou em dois meses, mas quando eu paro e observo, eu transformei muita coisa que deveria, e que poucos notem porque é algo tão íntimo que não se nora facilmente.
Essas atitudes não significam gostar menos ou deixar de confiar, significam ser racional. Ser menos impulsivo e mais realista, mais seguro. Termino este post com uma breve frase que ouvi certa vez e tenho tentado introduzir em minha vida:
“Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também”
―Mario Quintana